segunda-feira, 30 de junho de 2014

Clara


Clara entrou na sala cheia de artistas. Mais perdida que filho de puta em dia dos pais. Que coisa horrível de se pensar. Ela tinha um amigo que riria muito da situação se pudesse vê-la agora. Uma gênia da matemática na aula de teatro. Ela olhou em volta, só para conferir se não tinha mesmo ninguém que ela conhecia. 

O professor chegou bem perto dela e pegou uma mecha do seu cabelo. Ela tinha cabelos ruivo. Okay, não era bem ruivo natural. Aqueles fios cobre foram conseguidos com muita tinta. Mas ela não admitia pra ninguém. Meu cabelo sempre foi assim. Teimava. 

Então, o homem olhou bem pra ela com cara de intrigado. Clara chegou atrasada e tinha jogado os livros de cálculo em um canto da sala. Hmm, é por isso que eles sabem. Ela nem pensou que talvez fosse porque ela ficou em primeiro lugar numa Olimpíada Acadêmica Nacional no ano passado. A foto dela circulou bem pela faculdade durante aquele ano. 

Clara sorriu para o professor. É natural. Foi o que aquele sorriso quase gritou quando o os olhos do homem escanearam os cabelos dela. Que iniciação mais estranha. Será que ele analisa o cabelo de todo mundo assim? Ele sorriu de volta e mandou todo mundo sair circulando por aí, andando como se estivesse com raiva. 

A garota dos cabelos pintados preferia fazer o vestibular de novo, mais dez milhões de vezes, do que tentar descobrir como caminhar com raiva sem parecer uma completa tapada. Você é a garota da Olimpíada de Astronomia fazendo aula de teatro, você já parece tapada o suficiente, Clara. Daí o professor mandou eles caminharem com amor. O que? Pra concluír, aquilo tudo foi muito difícil. Brigar com a parede e rir feito idiota. E o professor passou o tempo todo a observando de longe. Só no final da aula que ela percebeu. 

Ela se lembrou daquele rosto. Ele também era professor de literatura. Não dela. Não que ela se importaria se tivesse que encará-lo toda semana durante uma hora. Clara sorriu para si mesma com o pensamento. Nem viu o homem chegar e anunciar em voz baixa :

- Seu lugar não é aqui.- Rude. 
- Porque não?
- Garotas das exatas não costumam atuar.
- Professores de tearo costumam ser gays.- Touché.
- Isso aqui, vai ser bem difícil pra você, se você não parar de fingir. - Clara cruzou os braços. Ela não ia perguntar porque. Não mesmo. Mas ergueu a sobrancelha sem querer. Força do hábito. Ele sorriu satisfeito. - Excedendo as expectativas. Quebrando padrões que você não quer quebrar. 
- Eu sou uma péssima atriz, pra falar a verdade.
- Não é o que o seu cabelo diz.
- Meu cabelo não fala. - Ela lhe deu um sorrisinho. Já ia saindo quando o professor a chamou de volta.
- Você pode voltar na semana que vem e eu não pegarei no sei pé, mas só se você me contar um segredo. Qualquer um que me faça acreditar que você não finge tanto quanto parece.
Clara se aproximou dele. Eram quase da mesma altura. Ele devia ser três centímetros mais alto. 
- Meu cabelo...- Ela sorriu abertamente pra ele. O professor esperava.- Eu só o penteio quando saio do banho.


7 comentários:

  1. ... E ela não servia para o teatro mesmo. Rs
    Muito bom!

    obs: Amanda, seu background está lindo. Mas a fonte do texto está ilegível para meus olhinhos míopes. Tive que aumentar a tela a 175% para conseguir ler seu texto. Talvez seja uma coisa do meu pc, mas achei que não custava avisar.

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    1. Oi Mari, valeu pelo aviso. Meu computador tá muito rebelde esses dias, eu não sei o que está aocntecendo mas eu não tô conseguindo configurar nenhuma página que no dia seguinte já tá tudo errado de novo. Mas eu vou dar um jeito.
      Beijos

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  2. muito bom Mand, de verdade, a história seguiu um rumo diferente do esperado e me cativou MUITO
    parabéns

    http://www.novaperspectiva.com/

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  3. Oii!
    Adorei o texto, curtinho porém muito cativante, e os diálogos foram bem divertidos!
    Amei!
    Beijos,

    meuuniversox.blogspot.com

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  4. Tá sumidona, hein. Quero mais textos! Acredito que isso se deva aos problemas no seu computador, então boa sorte! rs

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  5. Por força do hábito, acabei shippando professor e aluna. XD. Geralmente a gente segue fazendo aquilo no qual é bom: matemática, no caso dela. Mas, se for caso de vocação e paixão: eu também recomendaria que ela repensasse o assunto. Ah, sim, eu também penteio depois do banho XD
    | Emilie Escreve |

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  6. Que texto mais leve e gostoso de ler. Me identifiquei bastante em algumas parte. Adorei mesmo.
    vidaem-textos.blogspot.com

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